quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Será que remamos contra a maré?

Segundo o Programa Ambiental da ONU (Pnuma), os subsídios governamentais ao petróleo, que visam a manter o preço dos combustíveis baixos, são grandes responsáveis pela ampla difusão no uso das tecnologias energéticas mais poluidoras.

"A energia barata encoraja um maior consumo e desencoraja a eficiência. Além disto, ela também atrasa o processo de transição para fontes de energia limpa", segundo o relatório do Pnuma.

De acordo com Kaveh Zahedi, coordenador de mudança climática do Pnuma, "cortar os subsídios energéticos seria bom para o clima e reduziria as emissões de carbono em cerca de 6%".

É fato que, quando pensamos em tecnologias não poluidoras, o custo de implantação dos aquecedores solares , o preço do automóvel elétrico ou o conforto do uso de nosso carro em detrimento ao metrô, sempre esbarram na contabilidade que, certamente, leva em consideração um preço para o gás ou a gasolina que possuem uma forte dose de subsídios, mantidos pelo dinheiro que poderia ser utilizado pelos governantes em outras necessidades de maior prioridade para a sociedade.

Quer uma prova disto? Qual foi o aumento da gasolina na bomba de seu posto preferido enquanto o preço do petróleo batia seguidos recordes nos mercados internacionais, a ponto de preocupar as maiores economias do mundo?

Muito bem... Como se já não fosse um grande escândalo o fato de que o dinheiro público seja desperdiçado para manter uma medida extremamente popular e, no final das contas, pouco eficiente, como a manutenção dos preços dos combustíveis em baixa, hoje já existem articulações na administração pública para aumentar a dose de tais subsídios, de olho numa montanha de petróleo que sequer saiu do buraco.

Entre as medidas propostas pelo ministério de minas e energia, está a criação de linhas de crédito diferenciadas (leia-se subsidiadas pelo dinheiro público) para o investimento que será feito na tal "camada pré-sal". Pena que esta mesma medida não possa ser adotada quando falamos em expandir o saneamento básico, que não chega a atender à metade de nossa população. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB) do IBGE, divulgada em 2002, 60% da população brasileira não tinha acesso à rede coletora de esgotos e apenas 20% do esgoto gerado no País recebia algum tipo de tratamento.

Eu tenho certeza de que muitos podem pensar agora que eu estou querendo ver a sua ruína pois, se tais subsídios não fossem aplicados a uma importante matéria prima, presente em toda a cadeia produtiva de nosso país, certamente os preços de quase tudo o que se pode comprar teriam uma elevação significativa.

Mas alguém já parou para pensar que, após décadas de injeção de dinheiro público barato (barato porque você não cobra nada para entregá-lo ao administrador público), numa política de incentivo ao consumo absolutamente equivocada, nós podemos ter criado uma falsa impressão acerca do valor das coisas?

E se esta montanha de dinheiro tivesse sido aplicada em segurança pública, educação pública eficiente, programas de inclusão social e saúde pública de qualidade? Certamente hoje você não estaria se preocupando em pagar o seguro do carro, o colégio de seus filhos ou os absurdos cobrados pelo seu plano de saúde familiar. Como consequência, poderia dispender uns reais a mais para adquirir um carro elétrico de alta eficiência que, pesados os custos de aquisição e manutenção, custaria o mesmo que o seu moderno, mas nem tanto, veículo flex, que pode não poluir pelo escapamento , mas causa enorme degradação ambiental ao necessitar de vastas áreas para o plantio da cana-de-açúcar.

Se quiser se aprofundar...

Órgão ambiental da ONU pede fim dos subsídios ao petróleo
O Pnuma no Brasil

Sistema Nacional de Informações Sobre o Saneamento (SNIS)

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